terça-feira, 17 de novembro de 2009

Peter Pan e a Terra do Nunca


Peter Pan é um conto maravilhoso pensado por um rapaz, para rapazes. Tem piratas, ilhas misteriosas, peles vermelhas, barcos, tesouros, animais selvagens, voos nocturnos, lutas, desobediência e muitos outros ingredientes que pertencem ao imaginário do que tradicionalmente sempre foi considerado "literatura infantil". (...) Peter Pan é uma figura criada com o intuito de desestabilizar, criar perigo e destruir regras. (...) Assim, Peter Pan surge como um elfo, feito de matéria orgânica - como Pan, o mítico fauno dos bosques - que permanece sem idade, num estádio infantil. Na companhia de crianças, Barrie [ autor]sentia-se feliz, completo e amado. (...)conservou até à sua morte, em 1937, o sonho de partir, como Peter Pan, para a Terra do Nunca. in Vasconcelos, Helena. A Infância É Um Território Desconhecido, Lisboa. Quetzal Editores. Lisboa.

A terra do nunca


Se eu fosse para a terra do nunca,
teria tudo o que quisesse numa cama de nada:

os sonhos que ninguém teve quando
o sol se punha de manhã;

a rapariga que cantava num canteiro
de flores vivas;

a água que sabia a vinho na boca
de todos os bêbados.

Iria de bicicleta sem ter de pedalar,
numa estrada de nuvens.

E quando chegasse ao céu, pisaria
as estrelas caídas num chão de nebulosas.

A terra do nunca é onde nunca
chegaria se eu fosse para a terra do nunca.

E é por isso que a apanho do chão,
e a meto em sacos de terra do nunca.

Um dia, quando alguém me pedir a terra do nunca,
despejarei todos os sacos à sua porta.

E a rapariga que cantava sairá da terra
com um canteiro de flores vivas.


E os bêbados encherão os copos
com a água que sabia a vinho.

A terra do nunca, com o sol a pôr-se
quando nasce o dia.

Nuno Júdice, in As coisas mais simples